A felicidade é uma habilidade

Existe uma ciência da felicidade?

Richard Davidson

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Eu acho que há um ciência da felicidade que está se desenvolvendo e que uma das coisas que aprendemos a cerca da felicidade a partir do trabalho sobre o qual estamos falando, é que é melhor pensarmos na felicidade como uma habilidade. Normalmente não pensamos assim. Mas na verdade, todo este trabalho nos levará a ver desta forma – se praticarmos, nos tornaremos melhores nisso.

Uma das mais fascinantes áreas de pesquisa que aborda essas questões é buscar as origens de certos tipos de qualidades virtuosas como ser gentil com o outro, que acaba sendo um dos estímulos ou situações mais fortes para produzir felicidade.

E também se verificou que as crianças têm uma propensão inata para expressar gentileza com os outros – elas preferem ver esse tipo de interação, eles preferem se engajar nesse tipo de interação.

Em certo sentido, podemos pensar nessas qualidades da mesma forma como pensamos sobre a linguagem. A linguagem é claramente uma capacidade inata; todos nós temos a capacidade de nos expressar por meio da linguagem. Mas para podermos nos fazer isso, precisamos ser criados em uma comunidade que expressa essa linguagem. Da mesma forma, para que a felicidade e o bem-estar, e outras qualidades como a bondade e a compaixão sejam expressas, precisamos nutri-las desde o início. Se não forem nutridas, podemos então usar algumas das práticas sobre as quais estamos falando, para nos ajudar a nos familiarizarmos com esse lugar dentro de nós, que está lá desde o princípio e que tem essas qualidades como essência.

E é claro que há toda a neurobiologia relativa a isso. Estamos aprendendo que quando as pessoas se engajam nesse tipo de prática para fortalecer esses atributos emocionais, ocorrem alterações no cérebro.

E por fim, deixe-me encerrar esta pequena apresentação dizendo que todos nós também sabemos que a felicidade está relacionada à saúde. Os dados a respeito disso são agora muito, muito convincentes. Há um grupo na Inglaterra que está trabalhando com o que chamam de Estudo “Whitehall”; é um estudo com funcionários civis do governo britânico, com uma amostragem bem grande. Há dados recentes desse estudo que indicam claramente que os relatos das pessoas sobre felicidade estão fortemente relacionados a todos os tipos de resultados positivos de saúde. O que nós ainda não sabemos é quais são os mecanismos, mas sabemos que existe essa relação positiva entre felicidade e saúde.

Jon Kabat-Zinn

JKZ

Acho que há uma mensagem muito importante para levarmos para casa no que Richard está dizendo – “a felicidade é uma habilidade”. O quê isso significa, porque normalmente não pensamos na felicidade como uma habilidade? Nós achamos que a felicidade é um “estado especial”. Acho que é muito importante reconhecermos que a felicidade não é um estado particular. A atenção plena também não é um estado particular e nem a compaixão. Há toda uma ampla gama de modos de ser, sob o guarda-chuva de todos essas coisas.

E se você espera incrementar seu nível de felicidade, há várias formas infelizes de fazer isso, como se agarrar a coisas que você pensa que o farão feliz, em vez de reconhecer que a felicidade pode já estar aqui, dentro de você, como a sua respiração. Mas você nunca deu atenção e então ela está como que um pouco atrofiada. Tenho certeza de que se você segurar a respiração por 30 segundos, a próxima inspiração será uma fonte de muita felicidade! Mas nós respiramos muitas vezes como se nada fosse – quem ficaria feliz com a respiração? Mas quando não consegue respirar, é a única coisa que importa. Existem muitas coisas desse tipo que estamos ignorando, não estamos prestando atenção, a esses aspectos da nossa própria experiência de afetividade que, na verdade, oferece sentido e uma conexão profunda com a sensação de interconectividade que de fato é a base do bem-estar e da felicidade.