Meditação não é remédio

pills head

Meditação serve para curar a ansiedade? Depressão? Deficit de Atenção? Quantos minutos por dia? Por quanto tempo?

Esta é uma lógica bastante triste! Poderíamos chamá-la de lógica da medicalização. E apenas um profundo questionamento poderá nos salvar dela.

“Entendemos por medicalização o processo em que as questões da vida social, sempre complexas,    multifatoriais e marcadas pela cultura e pelo tempo histórico, são reduzidas à lógica médica, vinculando aquilo que não está adequado às normas sociais a uma suposta causalidade orgânica, expressa no adoecimento do indivíduo.

Assim, questões como os comportamentos não aceitos socialmente, as performances escolares que não atingem as metas das instituições, as conquistas desenvolvimentais que não ocorrem no período estipulado, são retiradas de seus contextos, isolados dos determinantes sociais, políticos, históricos e relacionais, passando a ser compreendidos apenas como uma doença, que deve ser tratada.”

~ Forum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade

Quando se trata dos medicamentos e dos bilhões de dólares que as indústrias farmacêuticas lucram ao reforçar a prevalência das doenças como uma espécie de reserva de mercado, a questão se coloca com clareza.

Mas se a meditação for apresentada apenas como um recurso terapêutico, a mesma lógica estará operando: haverá uma doença – e não um ser em toda a sua complexidade; haverá um tratamento, que deverá produzir resultados específicos em determinado tempo, após o qual, caso não produza melhora, deverá ser substituído; e idealmente deverá demandar o menor esforço possível, claro!

Não é assim? Na melhor das hipóteses, em meio a esse processo, o “paciente” poderá ter a sorte de observar todos os inúmeros e profundos benefícios da prática. Mas… apenas se tiver sorte!

Neste momento em que a prática vem se popularizando no ocidente, e naturalmente muitas vezes de maneira descontextualizada do modo de vida e da filosofia que a permeavam, todo cuidado é pouco para não transformá-la em mais água para esse moinho da medicalização e da patologização.

As inúmeras evidências científicas que vêm sendo demonstradas sobre os benefícios da meditação podem servir de incentivo inicial e atingir pessoas que não se disporiam a praticá-la com base em outros argumentos. Sensacional! Mas precisamos encontrar formas de aprofundar o olhar!

A proposta original das práticas meditativas é muito mais radical e vai muito além de qualquer indicação terapêutica – é uma ferramenta para cultivarmos a felicidade genuína, o resultado natural do equilíbrio e do bem-estar mental. 

Para saber mais sobre medicalização, acesse:
http://medicalizacao.org.br/