Vale a pena contemplar
Clifton B. Parker
Cientistas e estudiosos examinam o poder da meditação
Respire profundamente no abdomen, expire lentamente e contemple estas descobertas científicas: pessoas que praticam meditação rotineiramente pode ser mais capazes de lidar com os altos e baixos da condição humana.
Essa é a conclusão de pesquisadores da UC Davis, que estão liderando uma das mais profundas e cuidadosamente acompanhadas pesquisas do mundo sobre o assunto. Quem está acompanhando? O Dalai Lama, entre outros.
Existe uma abundância de testemunhos anedóticos sobre os benefícios da meditação desde a antiguidade, mas o Projeto Shamatha visa investigar seus benefícios concretos. O projeto de 10 anos está dando seus primeiros resultados, e os pesquisadores estão prestes a publicar mais resultados no futuro próximo.
Clifford Saron, neurocientista pesquisador na UC Davis Center for Mind and Brain e do MIND Institute, é o líder da equipe do Projeto Shamatha, que também inclui o Santa Barbara Institute for Consciousness Studies, o Shambhala Mountain Center, colegas da UC Davis e outros cientistas de todo o mundo.
Saron disse: “O Projeto Shamatha explora a hipótese de que o desenvolvimento da atenção é útil na alteração da processos de pensamento que evocam emoções negativas tais como desprezo, raiva e aversão, que podem dificultar a expressão de amor e compaixão.”
O termo shamatha significa “o calmo permanecer” em sânscrito. Para o Projeto Shamatha, 60 participantes meditaram em dois grupos de 30, por cerca de sete horas por dia, sete dias por semana, durante três meses em um estudo em 2007, no Shambhala Mountain Center, no Colorado. Mais de 30 pesquisadores, cientistas e o estudioso budista Alan Wallace envolveram-se no enorme esforço para a coleta de dados, agora sob análise.
Melhor foco mental
No início desta primavera, o grupo publicou suas primeiras descobertas, mostrando que as pessoas submetidas ao intensivo treinamento de meditação melhoraram a capacidade de fazer distinções visuais finas e de sustentar a atenção durante um teste de 30 minutos. Isso significa que uma melhor percepção, muitas vezes considerada um benefício da prática da meditação, está subjacente a melhorias sustentação da atenção.
A autora principal foi Katherine MacLean, doutora em psicologia da UC Davis.
A habilidade de sustentar a atenção, como demonstrado em uma pesquisa anterior, pode ajudar a regular as emoções, reduzir a depressão e controlar a raiva, afirmou o professor de psicologia Phillip Shaver, investigador sênior do Projeto Shamatha desde seu início, em 2003.
O artigo seguinte do grupo de pesquisa, descreve os benefícios da meditação na “auto-regulação” e no “bem-estar emocional.” Em outras palavras, a meditação pode ajudar alguém que se sente frustrado a se tornar mais consciente deste sentimento, e, portanto, mais capaz de controlar o comportamento impulsivo que poderia acontecer. O pesquisador pós-doutorado Baljinder Sahdra é o autor principal deste artigo.
Os dois estudos são apenas o começo, afirmam Saron e seus colegas. Eles esperam ainda resultados de mais longo alcance nos próximos anos. “Alguns de nossos resultados sugerem ainda que a meditação também tem efeitos fisiológicos desejáveis, que podem aumentar a longevidade de uma pessoa “, disse Shaver. No entanto, Shaver diz que, ele mesmo, tem pouco tempo para meditar. Trabalha 60-70 horas por semana, e tem uma série de compromissos, como a edição de vários livros e almoços e cafés da manhã escolares de suas duas filhas. “Minha agenda não deixa muito tempo para a meditação”, disse Shaver. “Meu objetivo é entender a meditação, não necessariamente a praticá-la.”
Olhando para a longevidade
O Projeto Shamatha está explorando efeitos da meditação sobre o envelhecimento celular.
“A pesquisa mostra que o estresse é prejudicial para as células”, disse Saron, observando que a longevidade pode estar relacionada com uma enzima conhecida como telomerase das nossas células, responsável por reparar o encurtamento dos cromossomos que ocorre ao longo da vida.
“Nós estamos estudando os níveis de telomerase de pessoas que praticam a meditação para ver se estes níveis mudam ou não depois de um programa de três meses de meditação.”
Os resultados são promissores, disse Saron, e um artigo foi aceito para publicação na Psychoneuroendocrinology. Para este estudo, Tonya Jacobs aluna de pós-doutorado da UC Davis está trabalhando com as psicólogas Elissa Epel, Elizabeth Blackburn e colegas da UC San Francisco. Blackburn, um pesquisador biológo, foi co-ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2009, por pesquisas sobre telômeros, envelhecimento e câncer.
Os estudos do Projeto Shamatha estão sendo bem recebidos por muitos adeptos da meditação.
O estudioso budista Thubten Jinpa diz que o estudo da meditação e da ciência do cérebro prometem descobertas importantes para uma maior compreensão da nossa realidade mental, capazes de desenvolver “uma taxonomia abrangente do nosso mundo mental”. Além disso, a meditação pode ajudar a “reintroduzir a introspecção “, como um meio legítimo de investigação científica.
O Dalai Lama, líder espiritual ganhador do Prêmio Nobel, tem sido um grande amigo de Saron há anos. O cientista manteve-o informado sobre o andamento do Projeto Shamatha.
“Acredito que este projeto de pesquisa tem o potencial para trazer um benefício significativo para o avanço do conhecimento científico sobre os efeitos da meditação sobre a atenção e regulação emocional”, escreveu o Dalai Lama em uma carta de 2006 para a equipe do Projeto Shamatha.
A meditação, observou o Dalai Lama, diminui “as causas internas do sofrimento” e revela “os potenciais da consciência humana no mundo de hoje”.
Ocidente e Oriente
Saron tem interesse pela meditação desde 1970. Na década 90, ele organizou um estudo com praticantes experientes, sob os auspícios do gabinete do Dalai Lama e do Mind and Life Institute em Boulder, Colorado. Durante o projeto, ele inspirou-se por conhecer monges e iogues tibetanos exilados na Índia, aos pés dos Himalaias, que alcançaram notável calma emocional, foco e alegria em suas vidas, muitas vezes, apesar de grandes dificuldades e sofrimento.
Como explica Saron, a meditação ensina os praticantes a serem mais conscientes de suas condições atuais, aprendendo a enfrentar os desafios sem se sentirem oprimidos. “Na meditação, você aprende que qualquer situação pode ser trabalhada, se a sua mente estiver preparada para isso “, disse ele. Você não precisa ser um monge ou iogue para aprender a meditar de forma eficaz, disse Saron. “Treinar a mente é possível para a grande maioria das pessoas. É semelhante a tonificar os músculos por meio de exercícios físicos.”
Diferentes formas de meditação são praticadas em tradições espirituais do Oriente e do Ocidente. No Oriente, os budistas há muito tempo praticam bhavana , um termo sânscrito que muitas vezes é traduzido como “Meditação”. Significa “cultivar” qualidades benéficas como a bondade e atenção, e tornar-se mais familiarizado com a própria mente. No Ocidente, os ensinamentos judaico-cristãos incluem meditações sobre a alma humana e a consciência.
O Projeto Shamatha recebe o importante apoio do Instituto Fetzer e da Fundação Família Hershey, juntamente com outros doadores.
Tornar a meditação acessível
Alan Klima, professor de antropologia da UC Davis professor e praticante do Budismo Theravada, espera que a meditação possa ser praticada de forma mais ampla e que se torne mais acessível no Ocidente.
Ele está escrevendo um livro sobre meditação budista e o Ocidente sob o título preliminar de “A Máquina de Meditação”.
“A maior diferença entre as culturas é que qualquer um na Tailândia ou Birmânia, rico ou pobre, tem livre acesso aos ensinamentos sobre meditação, apoio, e até mesmo instalações residenciais, devido ao sistema de fé e generosidade, que tem sido a “Máquina de Meditação” nesses países “, disse ele.
A construção de uma “máquina de meditação” semelhante no Ocidente significa integrar a prática no âmbito dos cuidados de saúde e seguridade, assim como qualquer outra forma de tratamento físico ou psicológico, disse Klima.
Ele atesta os benefícios pessoais de meditação. “Tudo que é bom na minha vida está diretamente ligado à prática da meditação – a minha capacidade de conviver com a loucura quase constante de minha própria mente, minhas relações, meu trabalho, meus livros, tudo “.
Enquanto defende a confirmação científica de benefícios da meditação, o antropólogo acredita que a ciência sozinha não pode explicar totalmente o seu poder.
“As abordagens das ciências sociais e humanas são muito mais amplas, e podem até mesmo incluir as conclusões dos cientistas e colocar essas descobertas em seu contexto social. Os cientistas pesquisadores podem colar eletrodos de EEG em meu couro cabeludo, enquanto eu escrevo um livro sobre a ciência da meditação, mas eu não tenho certeza de que irá render algo significativo “.
Erika Rosenberg, professora de meditação e especialista em expressões faciais de emoções, é um membro do Projeto Shamatha. Ela acredita que os resultados do projeto poderiam ajudar mais pessoas a descobrirem os benefícios da meditação.
“A ciência é uma linguagem que fala poderosamente com muitas pessoas”, disse Rosenberg, “incluindo aqueles que são predispostos a serem altamente céticos em relação a práticas ligadas às tradições espirituais.”
Em última análise, a meditação é o treinamento da mente, disse ela.
“Eu tento enfatizar isso em minhas aulas também. E quando você treina a mente em um conjunto de práticas de forma disciplinada por algum tempo, você vê os benefícios.”
Ela acrescentou: “Não há nada de místico nisso.”
Paciência, Perspectiva
Beth Cohen é instrutora de meditação e diretora do Programa de Assistência da UC Davis, que oferece aconselhamento para professores, funcionários e suas famílias.
“Eu encontrei a meditação por necessidade, não por interesse”, disse ela. Aos 36 anos, Cohen foi diagnosticada com uma doença auto-imune, e a medicina ocidental tradicional não foi capaz de melhorar sua condição. Foi quando ela descobriu a meditação.
“Ela não só auxilia no manejo da minha doença, como também me proporciona mais clareza mental, paciência e perspectiva “, disse Cohen.
“A prática diária de meditação, por apenas 10 a 20 minutos, realmente causa mudanças em partes do cérebro que promovem felicidade, pensamentos e emoções positivos”, disse Cohen, observando os benefícios de uma maior atenção, clareza mental, controle da dor crônica, diminuição da pressão arterial, e maior facilidade em lidar com a ansiedade e a depressão.”
Isso pode explicar a popularidade de uma prática de meditação na hora do almoço que ela ensina no campus. A classe atraiu cerca de 25 pessoas quando Cohen começou há três anos, e agora normalmente registra mais de 100 pessoas quando é oferecida. Ela estima que tenha ensinado meditação para mais de 1.000 pessoas nos últimos nove anos.
“Esses benefícios podem ser muito úteis para os funcionários da UC Davis durante momentos de estresse como estes”, disse ela. “Para aprender a trabalhar com a sua mente nem é preciso pensar”.
http://www.sbinstitute.com/sites/default/files/UC%20Davis%20Magazine_0.pdf